O vício de comer

Quase todos sabemos em que consiste uma alimentação equilibrada.

Todos temos consciência que, na maioria das vezes, comemos demasiada carne, ingerimos poucos legumes e abusamos do sal e do açúcar.

Mas, para os seres humanos em geral, a alimentação deixou de ser uma necessidade biológica, para se tornar numa necessidade social.

Segundo a Biologia, o acto de comer está associado a uma forma de viver, é uma forma de relação com o mundo e com as coisas que nos rodeiam.

Daí que, quando as pessoas comem sozinhas, a refeição perde o seu carácter social, tornando-se numa mera satisfação da necessidade de nutrientes.

Comemorar é engolir

Festas de anos, fechar negócios, casamentos, baptizados, comunhões, Natal e passagem de ano… tudo se baseia numa “boa refeição”.

As refeições facilitam a integração e a relação entre os comensais.

Por um lado, comemos demais porque o nosso subconsciente não tem a certeza de quando será a próxima refeição – poucos foram os antepassados do Homem que não tiveram um ritmo anual de escassez e abundância. Assim, centenas de milhares de anos de evolução deixam marcas genéticas, que não se apagam nesta ultimas décadas de “mais abundância”, e o nosso organismo continua a exigir um armazenamento excessivo de calorias.

Por outro lado, usamos os alimentos como forma prioritária de uma relação – comemos mais do que o necessário porque sentimos necessidade de festejar tudo “à mesa”.

A Medicina vai mais longe, afirmando que a comida é um prazer. Existe uma associação entre a primeira relação afetiva do recém-nascido e o acto de comer, dado que a amamentação permite incrementar os laços entre mãe e filho. Por isso, de alguma forma, toda a comida constitui por si só uma recompensa afetiva.

Os excessos alimentares costumam basear-se na carne, gorduras e doces, deixando de lado o peixe, as verduras e a fruta; logo, come-se demasiado em quantidade e mesmo assim faltam nutrientes!

Em Portugal as maiores carências alimentares referem-se às vitaminas e fibras, daí ser importante o planeamento das refeições para que estas sejam completas do ponto de vista nutricional.

Encontramo-nos numa sociedade em que quase todos comem demasiado.

Os hábitos alimentares transmitem-se tanto por herança familiar como cultural, logo, o mais importante é ensinar os jovens a comer, para que gradualmente comecem a alterar a sua alimentação.

O alerta já foi feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS): o excesso de peso “é tão comum que arrisca tornar-se a nova norma na região europeia”.

Para fundamentar esta conclusão a OMS apresentou médias que considera “alarmantes”. Em 2014, em Portugal 55,6% da população tinha excesso de peso e 20,1% era obesa.

Estas estatísticas são graves e cabe-nos a nós iniciar uma mudança.

A obesidade infantil está a aumentar de uma forma galopante, devido à redução do número de horas de actividade física nas escolas, às crianças passarem cada vez mais tempo em frente ao televisão ou ao computador e à crise económica que afectou a alimentação.

Leve os seus filhos a andar de bicicleta ou patins, e mande sempre o lanche feito em casa (evite as compras de alimentos processados nas máquinas de venda automática e nos bares).

Corrija os seus hábitos alimentares e pratique mais atividade física – são os meus desejos para si e para a sua família, neste novo ano que se inicia !

Artigo escrito pela Dra. Ana Moreira

Este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.